quarta-feira, 22 de junho de 2011

Freguesia dos Canhas

Canhas 1950
Distando 8 km da sede de concelho, confina a Norte com o planalto do Paul da Serra, a Sul com o Oceano Atlântico, a Leste com a Paroquia da Ponta do Sol e a Oeste com a freguesia da Madalena do Mar. Esta freguesia é irrigada pelas levadas do Pico e das Cruzes e é servida pelo porto da vila da Ponta do Sol e pelo pequeno porto dos Anjos, situado na costa da freguesia.
Criada por alvará régio de 30 de Janeiro de 1577, só se constituiu como freguesia alguns anos mais tarde, instalando-se a matriz na capela de S. Tiago, fundada por Rui Pires de Canha, ao que se supõe. Esta capela terá sido edificada em local escolhido por João Gonçalves Zarco, desconhecendo-se o ano da sua fundação. Apenas se sabe que, pelo mesmo alvará, esta capela foi elevada a sede da paroquia dos Canhas, que ai ficou poucos anos, pois já em 1587 tinha passado para a igreja de Nossa Senhora da Piedade. Da primitiva capela nada resta. Nos primeiros anos dos século XVII erigiu-se um novo templo para o qual foi transferida a sede da paroquia, e em meados do século XVIII, outra igreja, que é a actual, é construída. Nesta freguesia existiram as capelas de Nossa Senhora do Socorro, instituída em 1665; a de Nossa Senhora da Anunciação ou da Encarnação, edificada em 1696 e a de Nossa Senhora do Monte e Sant'Ana, edificada em 1733.
Actualmente, existe na freguesia a capela de Nossa Senhora dos Anjos, cuja construção remonta ao terceiro quartel do século XV. Paralelamente, existiram outras duas capelas: a do Sagrado Coração de Jesus, no sitio do Outeiro e a de Santo André Avelino, no sitio do Carvalhal, que foi demolida e no seu local construída a igreja do Carvalhal.
A origem do nome reside no apelido Canha de uma família que ali estabeleceu nos primeiros tempos da colonização, dando às suas terras o nome de Canhas.
Nesta freguesia, merece especial atenção o Paul da Serra, única planície existente na ilha da Madeira. É este lugar, frequentemente fustigado por temporais e com níveis de precipitação elevados, que o tornam no mais importante recurso hídrico que alimenta as ribeiras madeirenses e dá origem aos mais ricos caudais de agua utilizados na irrigação. Ao longo de muitos quilómetros, estes caudais são transportados pelas levadas aos pontos mais distantes da ilha. Ao longo do percurso, a levada vai-se dividindo em "lanços", sendo a agua distribuída por meio de "talhos" ou "sacadas", designação dada aos cortes laterais do aqueduto. Trata-se de uma freguesia agrícola onde a mulher ajuda o homem nos trabalhos do campo e se dedica ao bordado na maior parte do seu tempo. Talvez por esse facto, esta é uma das povoações da ilha da Madeira onde a tradição regista as melhores bordadeiras.

Canhas 2011

domingo, 12 de junho de 2011

Terreiro da Luta



O turista interessado não poderá deixar de visitar, o maior monumento existente na Madeira, a cerca de 2 km do Monte. No sitio do Terreiro da Luta, este monumento dedicado a Nossa Senhora da Paz, foi construído na sequência do bombardeamento ao Funchal por submarinos alemães, em 1917. Fez-se a promessa de que se a paz voltasse, os ilhéus ergueriam outra estátua em homenagem à Sra do Monte. Dez anos mais tarde, acabava de se construir uma enorme estátua, talhada de mármore, com 5 metros de altura.

"O Vapor"

"Entre a Ponte Nova e o Torreão, sobre a Ribeira de Santa Luzia ficava o "vapor", essa habitação única que era um bairro em miniatura, uma republica de lavadeiras presidida por uma velha vesga que sabia da vida de toda a gente, tanta roupa já tinha lavado. Não que ela tivesse encargos sobre essa irmandade, mas como uma abelha-mestra, tinham-lhe um certo respeito as outras vespas que na sua presença se abstinham um pouco de pregar brutal ferroada no credito alheio. Mas, estava-lhes na massa do sangue a divisa da classe: ensaboar a roupa suja.

Uma habitação singular
Quem mandou fazer aquela edificação esguia de tabuado, escorado de margem a margem, da ribeira, nunca se nos deu de o saber, mas talvez começasse por servir de ponte, antes de ser armada a colmeia com o seu corredor muito estreito ao centro, tendo dos lados as pequenas células independentes com vista para montante e para a foz. A cor vermelha com que foi pintado dava-lhe um aspecto de casco de navio e, ou fosse por esta razão ou pelo seu formato esguio, o certo é que todos conheciam a habitação tão singular pelo nome de "vapor". Que enormidade de coisas se arrumavam ali a dentro: uma cama velha, um baú ou caixa de pinho, uma cadeira sem costas ou de uma perna a menos, um Santo Antoninho de barro, ervas bentas pelas paredes, estampas encardidas, guitas cruzadas para dependurar roupa, em fogareiro de pedra, um tacho de folha, um cesto barreleiro, uma vassoura de palma, uma celha com agua de anil, e mais. A lavadeira é uma mulher fecunda. Tinham ali uma média de cinco filhos. Os mais pequenos em fralda, muito sujos, sempre a choramingar, os maiorinhos, já de calças, mas rotas, com um cordel traçado a servir de suspensórios, não desmereciam no fraseado das suas progenitoras.

Os encantos da miudagem
Por baixo do "vapor" havia no verão uma represa feita na ribeira com os calhaus do leito cimentados a barro, leivas e ervas raizantes dos charcos, onde se empoçava a agua, que solta da comporta todas as semanas, varria para juzante as imundices acumuladas no leito. Era este açude o gáudio do rapazio. Naquela agua turva do sabão, escoada das lavagens, cheia de bolhas, grossas que rebentavam só de encontro às margens, medravam eirós verde-negros, sacudindo o rabo como serpentes de agua. Faziam pesca deles, os rapazes, com um alfinete torto em forma de anzol, levando como isca uma minhoca que se debatia no suplicio, atravessada de meio a meio. As vezes havia regatas de celhas, sentados os garotos ao fundo delas com os pés cruzados, servindo-se das mãos bem espalmadas para remar. Se acaso abalroavam as embarcações, metendo agua dentro, não havia perigo, porque eram como peixes a nadar, saindo depois dali molhados, quais pintos ao sair da casca, e o menos que os esperavam era uma sova de sapato, enquanto a roupa despida enxugava ao sol.
Foi demolido o "Vapor" que ameaçava ruína, desconjuntado e tremente ao marulho das enxurradas de inverno. Lavada em lágrimas vem a ribeira, mais lavado de ares ficou talvez o recanto, sem as lavadeiras.
Foi-se o "Vapor" como um vapor de agua que se perde, e como não figura nas estaticistas do porto, recordação, a vapor assim narrada."

sábado, 4 de junho de 2011

O Comboio do Monte!

O Comboio do Monte, também conhecido por elevador ou ascensor foi, sem sombra de duvidas, um grande contributo para o desenvolvimento da freguesia do Monte, que viria a ser a mais conhecida Estância Turística da Madeira.
Os estudos para o Comboio do Monte foram feitos em 1886, pelo engenheiro Raul Masnier Ponsard, a quem deve entre outros, o elevador de Santa Justa, em Lisboa. Apesar da relutância dos madeirenses em contribuir com capital para a formação da Companhia do Caminho de Ferro do Monte, o primeiro troço entre o Pombal e a levada de Santa Luzia, foi inaugurado a 16 de Julho de 1893, iniciando-se as viagens entre o Pombal e o Atalinho em 1894.
Com uma paragem à porta do Monte Palace Hotel, o comboio continuava ate o apeadeiro do Largo da Fonte, que era o fim da linha. Mais tarde, a linha férrea, foi prolongada até o Terreiro da Luta ficando, no total com uma extensão de 3850 metros.
A 10 de Setembro de 1919 deu-se uma explosão na caldeira, de uma locomotiva, quando o comboio subia em direcção ao Monte. Deste acidente resultaram quatro mortos e muitos feridos. Em consequência, as viagens foram suspensas até 1 de Fevereiro de 1920. A 11 de Janeiro de 1932, acontece novo acidente, desta vez descarrilamento. A partir de então os turistas e habitantes consideraram o transporte perigoso. Aliando este facto à crise que a Companhia atravessava, só havia uma saída, acabar com a Companhia do Caminho de Ferro. A ultima viagem realizou-se em Abril de 1943, a linha foi desmantelada e vendida em hasta publica para a sucata. Parte desse material foi utilizado na reparação do elevador do Bom Jesus de Braga.


(fotos tiradas da net)